Aqui estão as principais tendências que os especialistas internacionais apontam para o consumo de vinho no ano de 2022.
Para traçar o futuro é preciso olhar para trás e neste caso pensando em 2021, este é um conjunto de tendências que considero que podem muito provavelmente também acontecer em Portugal.
Algumas até, timidamente já andam por aí e continuarão a moldar a trajetória do mundo do vinho no panorama mundial em 2022 – independentemente do que o ano possa trazer-nos.
Relembrar que embora o consumo de vinho a nível mundial tem diminuído, em Portugal apenas recuou 0,6% entre 2019 e 2020. Continuamos a ser quem mais bebe, 51,9 litros per capita em 2020.
Logo é esperado que consumo de vinho vá manter-se este ano ou até aumentar com uma ajuda extra do turismo.
Eis às previsões sobre as principais tendências que devem aparecer por cá também, revelando o que o novo ano reserva para ti como amante de vinho.
1. Descoberta de outras regiões
A opção de escolha de vinhos numa loja ou restaurante é cada vez mais diversificada e vai agora muito além das clássicas regiões como o Douro, Dão ou o Alentejo para vinhos brancos e tintos
A possibilidade da compra online, por vezes directamente no produtor e os media, têm despertado o apreciador de vinhos para regiões como Trás-os-Montes, Beira Interior, Algarve e Açores.
Não se pode fingir que o preço não tem nada a ver, estas “novas” regiões oferecem vinhos muitas das vezes a preços bem mais acessíveis que outros da mesma gama.
E só porque desde há poucos meses ouves falar dos vinhos tintos de altitude da Beira Interior ou nos brancos de solo vulcânico nos Açores, não quer dizer que não haja história por detrás dos produtores, ou que as vinhas acabaram de ser plantadas. Deixa-me dizer-te que algumas marcas já cá andam há várias décadas. São vinhos com história!
E como os apreciadores de vinho são naturalmente curiosos, eis a oportunidade de expandires horizontes vínicos. Castas e regiões menos conhecidas estarão em ascensão em 2022.
2. Beber vinhos tintos frescos
Certamente já o fazes e não bebes um vinho tinto acima de 18.ºC, todavia o que refiro é colocares tintos leves e frutados num balde com gelo.
Vinhos com poucos taninos sem estágio em madeira, de castas como a Rufete, Castelão, Bastardo, Jaen, Tinta Miúda, Negra Mole bebidos a 15.ºC podem ser incrivelmente refrescantes.
São vinhos que podem ter sido vinificados em inox, ânforas ou (e aqui torço para que seja a grande tendência do ano) vinhos Palhete.
O consumidor consome cada vez mais vinhos brancos, rosés e espumantes e será inevitável o declínio do vinho tinto.
Hoje há brancos com tanta complexidade tal como um vinho tinto e nem sequer estou a pensar nos vinhos Laranja. Os rosés estão cada vez mais sérios e, ao mesmo tempo conseguem ser divertidos à mesa e super gastronómicos. Há quem já os beba durante todo o ano!
Por último os espumantes começam a ter lugar à mesa do apreciador de vinhos mais esclarecido. Sobretudo os de estilo Extra Bruto e Bruto.
Há pergunta “branco ou tinto”, em 2022 passa a incluir “rosé, Palhete ou espumante?”
3. Será o ano dos vinhos Biológicos
Estamos mais conscientes sobre os produtos alimentares que compramos, queremos saber de onde vêm, como são produzidos e por quem.
Tudo isto passa a ser cada vez mais um fator a ter em conta na decisão da escolha do vinho.
À medida que o número de vinhos Biológicos certificados vai aumentando, já não precisas de ir a lojas ou supermercados especializados para os comprares. Muito provavelmente será a tendência número um de 2022.
4. Expansão dos vinhos “naturais”
Gostes ou não de os beber, os vinhos “naturais” vão continuar a ganhar popularidade e terreno. Além que o número de lojas e bares exclusivos à venda destes vinhos vai aumentar, a tendência para 2022 é da introdução destes vinhos em cartas de vinhos de restaurantes que até agora só oferecem vinhos convencionais. O mesmo para as lojas de vinhos.
A curiosidade do consumidor sobre o que é um vinho “natural” e como se faz é grande e vão acabar a perceber que sempre se fez vinho assim. Uma coisa eu tenho a certeza, ninguém fica indiferente ao beber um destes vinhos.
Explorando uma variedade de abordagens e técnicas alternativas de vinificação (minimalistas e ancestrais), são vinhos feitos sem uma definição firme.
São algo difíceis de encaixar nos designativos de qualidade ou mesmo segundo a cor. Por isso espero que nas Cartas de Vinhos com vinhos convencionais, os “naturais” venham todos juntos. A união faz a força e neste caso, facilitará a escolha.
Prepara-te, os vinhos “naturais” vão deixar de ser um nicho marginal e vão expandir-se para novos mercados.
5. Os preços vão aumentar
A escassez de matérias-primas e da mão de obra, atrasos nas entregas de mercadoria importada (imagina uma cuba de inox que não chega a tempo da vindima), condições climatéricas adversas, aumentos dos combustíveis… tudo somado, irá originar num aumento inevitável dos preços dos vinhos Portugueses no decorrer de 2022.
6. As garrafas vão ficar mais leves
O vidro como matéria prima tem um outro ponto a considerar como tendência para 2022. As garrafas de vidro excessivamente pesadas vão passar à história.
O consumidor esclarecido sabe que não é um sinal de qualidade do vinho o facto da garrafa ser pesada ou ter um fundo muito concavo.
A questão é que as garrafas de vidro funcionam muito bem do ponto de vista da comunicação do vinho, transmitem segurança ao refletir os valores, a tradição e a qualidade do vinho e ficam bem à mesa. Além que o consumidor considera o vidro uma forma “sustentável” de embalagem. Para que seja verdade, apenas precisas de pôr as garrafas de vinho vazias no vidrão.
Cada vez há mais produtores conscientes da sustentabilidade. Entre outras medidas, optam por garrafas mais leves, por causarem menos impacto ambiental negativo. Sobretudo se considerarem-se grandes volumes de vinho ou mesmo exportação, será preciso menos combustível para enviar garrafas mais leves.
Uma garrafa padrão (75cl) com um peso típico de 500g, responde por 29% da pegada de carbono de um vinho. No entanto, como sabes existem muitas garrafas que pesam substancialmente mais, quase 1 kg em alguns casos, o que eleva a participação da garrafa na emissão de carbono do vinho para perto de 50%.
Uma garrafa leve reduz substancialmente a participação da embalagem – em cerca de 1g de carbono por grama de vidro, dependendo da proporção de vidro reciclado usado.
Também nos pontos de venda (cadeias de supermercados) a redução da pegada de carbono é muitas das vezes uma das metas anuais que a empresa tem de cumprir e desta forma “exige” o mesmo aos seus fornecedores.
Por isso não estranhes se a garrafa parecer-te mais leve.
7. Continuaremos a beber em casa
Pensa em todos os vinhos que compraste para beber em casa nos últimos dois anos e irás muito provavelmente descobrir o teu “vinho da casa”.
É aquele vinho que é sempre fiável. Não tens de o beber todos os dias, mas volta e meia voltas a ele. Seja para beberes um copo ao final do dia, à refeição ou acompanhar uma série na televisão à noite.
Já sabes qual é? Quase que aposto que não o bebias regularmente em 2019…
Se já tinhas o habito de beber vinho em casa, desde então bebes certamente outros vinhos, talvez até estejas a investir um pouco mais por uma garrafa de vinho, sejam mais 2€, 5€ ou 10€.
Essa é outra das tendências para 2022, beber vinhos de gamas mais altas em casa. Pelo menos mais alta do que era o habitual.
Com menos idas a restaurantes e menos viagens de férias, o orçamento para os teus momentos de prazer foi transferido para o lar. Embora haja uma tendência, sobretudo no estrangeiro, para se beber menos no geral, quando acontece é para se beber com mais qualidade.
Vais continuar a beber vinhos banais em 2022?
8. Vamos fazer enoturismo
Outra grande tendência para este ano, visitar as quintas, adegas, vinhas e quem sabe apertar a mão de quem faz o vinho que tanto gostas de beber. No regresso ainda trazes umas garrafas para saboreares em casa.
Contactar ao vivo com a produção de vinho, a possibilidade de fazer uma refeição na quinta ou até mesmo de lá dormir é irresistível para qualquer apreciador de vinhos.
Antes de 2020, 10% dos turistas que visitaram Portugal, vinham exclusivamente com motivos associados ao vinho”. O destino era na altura sobretudo as regiões do Douro e Alentejo.
Nós que cá vivemos, com uma viagem de 1h de carro estamos muito provavelmente à porta de uma adega. Não precisas por isso de tirar ferias para fazer enoturismo, podes fazer no teu dia de folga ou ao fim de semana. Aproveita!
9. A inovação continuará!
Marcas de grande volume vão tornar-se mais inovadoras no tipo e estilos de vinhos que fazem, no formato (vinho em lata) bem como vinhos sem álcool ou de baixo teor alcoólico. Sobretudo agora que já existe legislação Europeia para poderem ser chamados de vinho.
É uma forma de atingir um público jovem ou não consumidor de vinho.
Sem grande sucesso no mercado interno em 2021 para estes vinhos inovadores, alguns produtores Portugueses têm tido óptimos resultados na exportação (EUA, Brasil).
Aproveito para mencionar os cocktails à base de vinho em lata e talvez a única tendência relacionada com vinhos generosos, mais precisamente o Vinho do Porto.
Sim, isso mesmo! O Port & Tonic e o Pink & Tonic.
Dois cocktails prontos a beber em lata de 25cl com cerca de 5,5% vol., o mesmo que uma cerveja.
Ideal para teres no frigorífico para quando recebes visitas inesperadas ou apetece uma bebida refrescante.
10. O surgimento da Sidra
Não havendo uma tradição do fabrico de Sidra em Portugal como há em Inglaterra, França ou Espanha que até tem a Denominação de Origem Asturias, por cá alguns Enólogos brincam a Sidreiros com resultados deveras interessantes.
As sidras (sumo de maçã fermentado) que provei tinham sabor seco e eram bastante acídulas, com muito pouco gás. Totalmente diferentes daquilo que encontras em supermercados e bares.
São comercializadas invariavelmente em garrafas de 75cl com carica ou rolha cortiça (tipo espumante) têm um grau alcoólico à volta dos 7% vol. e que prazer dão à mesa!
É uma bebida deliciosa e definitivamente vale a pena experimentares em 2022 com queijos, patês ou à refeição.
O vinho tem uma história antiga e rica, hoje vive um período moderno, inovador, fascinante. Há reconhecimento pelo passado e um cuidado em preserva-lo. Nunca os consumidores foram tão esclarecidos e os produtores estiveram tão perto destes, nos últimos 30 anos.
Qual destas tendências já é para ti um hábito?
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