Vinhas Velhas são duas palavras na rotulagem de vinhos, que despertam curiosidade e dão a sensação de prestígio. Até recentemente não havia uma definição internacional clara sobre o que realmente significa. Com a nova resolução da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), surge finalmente uma directiva mundial sobre a idade de um vinha velha. Outra vez, estou muito animada por vir aqui contar tudo em primeira mão.
O que me entusiasma no mundo dos vinhos é o facto de não ser possível saber tudo.
De outra forma, eu creio que seria bastante aborrecido… Para complicar (no bom sentido) é necessário uma actualização constante. Ser Escanção e sobretudo Educadora de Vinho implica um estudo permanente e gosto pela pesquisa.
Foi assim que deixei de mencionar algumas máximas da sabedoria vínica, como, por exemplo, a importância da lágrima do vinho (tranquilo) no copo. Hoje sabe-se que afinal nada mais é que apenas densidade/glicerol. Não garante a riqueza alcoólica do vinho e tão pouco uma qualidade acrescida, é apenas algo bonito de se ver.
O que são vinhas velhas e qual a idade que devem ter, são perguntas que me fazem habitualmente nos cursos de vinhos. Muitos dos consumidores ficam confusos sobre o verdadeiro sentido destas duas palavras que vêm nos rótulos de vinhos que vão desde 2,99€ a 299€.
Por isso em 2021, após ter presenciado online a Old Vine Conference foi com grande emoção que escrevi aqui um artigo sobre vinhas velhas. Achei ser meu dever partilhar o que viticultores e enólogos de Portugal, Espanha, Itália, Líbano, África do Sul e Estados Unidos da América comunicaram durante a conferencia em Abril 2021 e procurei trazer clareza para o tema.
“Vinhas velhas não são tão comuns. Tipicamente, foram substituídas por videiras jovens e que produzem uma maior quantidade de uvas por ano. Existem também incentivos em vigor pela Comunidade Europeia para fornecer apoio monetário no arranque de vinhas velhas para plantar novas."
Relembrar que a videira é uma planta selvagem e se o viticultor a quiser domar totalmente, tal como a um animal selvagem num circo, vai perder a sua personalidade e provavelmente produzir pouco ou deixar de produzir (vinha velha). Por isso é preciso interpretar cada videira e não a vinha no seu todo e compreender para onde ela quer crescer para se tornar adulta, saudável e uma velhinha feliz sob o olhar do Homem.
O objectivo do primeiro Old Vine Conference* foi o de alertar para o facto das vinhas velhas não serem visíveis ou reconhecidas aos olhos de alguns profissionais e dos consumidores e ser necessário mudar isso.
E como estou feliz, por de alguma forma o que escrevi em 2021 estar hoje (Outubro 2024) desactualizado! Finalmente há uma directiva mundial sobre a idade de um vinha velha. Outra vez, estou muito animada por vir aqui contar tudo em primeira mão.
Antes deixa-me relembrar que mais uma vez a região do Douro foi pioneira. Nós Portugueses devemos ficar vaidosos pelo facto do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) ter dados os primeiros passos em Dezembro de 2020, na criação do designativo de qualidade - Vinhas Velhas, para vinhos de Denominação Origem Controlada (DOC) Douro, Regional Duriense e Vinho do Porto. Alguns deles já estão no mercado!
As vinhas têm de ter algumas características para o vinho passar na certificação da câmara de provadores e poder ostentar no rótulo este novo designativo.
Mais de 40 anos de idade;
5 mil pés de videira por hectare;
Mínimo quatro castas plantadas.
Mais recentemente, no dia 18 de Outubro passado, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) definiu na 22ªAssembleia Geral que aconteceu em Dijon (França) o que são videiras e vinhas velhas.
Uma videira “é uma planta individual, oficialmente documentada como tendo 35 anos ou mais, independentemente de outros fatores. Uma vinha velha é uma parcela contínua de terreno de vinha, legalmente delimitada, onde pelo menos 85% das videiras correspondem à definição anterior.”
A OIV também considerou a hipótese de vinhas enxertadas directamente, ou seja, “a ligação de enxertia entre o porta-enxerto e o enxerto deve estar intacta há, pelo menos, 35 anos.”
Agora é aguardar que o Instituto da Vinha e do Vinho e em particular as Comissões Vitivinícolas Regionais bem como os Institutos, regulamentem internamente e em breve poderemos beber um vinho de vinhas velhas com a garantia que no mínimo 85% desse vinho é de vinhas com mais de 35 anos.
E se te incomoda os 85%, lembra-te que qualquer vinho mono-casta Europeu tem apenas de ter 85% da casta mencionada no rótulo. Não havendo obrigatoriedade de informar quais são as outras castas. Por isso há produtores que mencionam 100% no rótulo ou contra-rotulo.
Espero ter contribuído uma vez mais para o enriquecimento da tua educação vínica.
E se queres aprender mais, lembra-te que podes sempre fazer um Curso de Vinhos presencial ou online comigo. Todos os cursos são personalizados e privados, logo posso adaptar às tuas necessidades e curiosidades. Contacta-me por aqui.
*The Old Vine Conference Limited é uma empresa sem fins lucrativos. O objectivo é aproximar os profissionais e consumidores de vinhos com o fim de construir uma categoria global -Vinhas Velhas. A próxima conferência acontecerá entre os dias 31 de Outubro e 4 de Novembro deste ano.
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